Caracterização química e molecular de amostras de Coriandrum sativum L. obtidas in vivo e in vitro Thesis uri icon

abstract

  • A espécie Coriandrum sativum L., vulgarmente conhecida como coentro, é frequentemente usada na alimentação, mas também em aplicações medicinais, na cosmética e perfumaria. É uma fonte de polifenóis e outros fitoquímicos, relacionados com a sua elevada actividade antioxidante e com a sua utilização no combate a indigestões, reumatismo e na prevenção dos danos provocados pela peroxidação lipídica. A cultura de células vegetais é um meio para estudar e produzir alguns compostos activos nomeadamente, voláteis, polifenóis e outros metoblitos secundários. No presente trabalho, foram germinadas sementes de coentro em condições de cultura in vitro, após excisão dos meristemas das plântulas e inoculação em meio modificado MS contendo IBA e BAP. Após seis meses em cultura, diferenciaram-se duas linhas pela sua pigmentação: a linha A, apresentando uma elevada coloração púrpura e a linha B, com uma coloração verde. A taxa de multiplicação dos meristemas foi de 50% para ambas as linhas após 3 semanas, apesar do padrão de crescimento não ser o mesmo. Estudou-se a taxa relativa de crescimento relacionando massa fresca e seca das duas linhas. A linha A revelou um maior crescimento apesar da relação massa fresca/massa seca ter sido maior na linha B, o que pode ter sido devido a uma maior concentração de água na planta. No final da 4ª semana do ciclo de micropropagação, a linha A ainda mostrava crescimento activo, em oposição à linha B, que apresentava um declínio do crescimento no final da 3ª semana. Foram estudadas amostras obtidas in vivo (partes aéreas e sementes) e as amostras obtidas in vitro (linhas A e B). Caracterizaram-se os voláteis (maioritariamente compostos terpénicos) presentes nas amostras após isolamento por hidrodestilação e análise por GC e GC-MS. O linalol foi o volátil predominante nas sementes (82%), seguido de γ-terpineno (4%), cânfora (3%) e geraniol (3%). O linalol estava também presente nas fracções voláteis das amostras obtidas in vitro, linhas A e B, e também nas partes aéreas obtidas in vivo, sempre em pequenas quantidades relativas (0,1%, 0,1% e 0,3%, respectivamente). O dodecanal (17%), o dodecanol (17%), o n-tetradecanol (15%) e o decanal (10%) foram os voláteis maioritários nas partes aéreas obtidas in vivo. O β-felandreno (37% em A, 45% em B), o terpinoleno (9% em ambos), o β-sesquifelandreno (4% em A, 6% em B) e o α-felandreno (2% em A, 3% em B) foram os voláteis maioritários identificados nas amostras obtidas in vitro, linhas A e B. Apesar da coloração púrpura observada nas plantas da linha A, o seu perfil volátil foi quantitativa e qualitativamente muito semelhante ao da linha B. A composição de voláteis nas amostras obtidas in vitro foi qualitativamente semelhante à das sementes e muito diferente das amostras obtidas in vivo. Quantificaram-se também os compostos antioxidantes lipofílicos (tocoferóis, carotenóides e clorofilas) e hidrofílicos (açúcares, ácido ascórbico, fenóis, flavonóis e antocianinas) presentes nas amostras. Além disso, as suas propriedades antioxidantes foram avaliadas atráves da actividade captadora de radicais livres, poder redutor e inibição da peroxidação lipídica. As partes aéreas obtidas in vivo mostraram maior actividade antioxidante principalmente devido aos seus níveis mais elevados de compostos hidrofílicos. Pelo contrário, as amostras obtidas in vitro, em especial a linha A, apresentaram maior concentração em compostos lipofílicos mas um perfil distinto quando comparado com as partes aéreas obtidas in vivo. As linhas A e B revelaram ausência de β-caroteno, β- e δ-tocoferóis, um decréscimo em α-tocoferol e um aumento em ү-tocoferol e clorofilas, comparativamente às amostras obtidas in vivo. Foi ainda realizada uma análise detalhada dos compostos fenólicos individuais presentes nas amostras obtidas in vivo e in vitro. As partes aéreas obtidas in vivo, mostraram conter derivados de quercetina como flavonóides maioritários, em especial 3-O-rutinósido de quercetina (3296 mg/kg dw). As sementes revelaram apenas a presença de ácidos fenólicos e derivados, com o hexósido de cafeoil N-triptofano como maioritário (45,33 mg/kg dw). As amostras obtidas in vitro demonstraram também uma grande variedade de polifenóis, sendo a apigenina C-glucosilada o composto maioritário (2983 mg/kg dw). As antocianinas foram encontradas, exclusivamente, n linha A o que está certamente relacionado com a sua pigmentação púrpura; a peonidin-3-O-feruloilglucósido-5-O-glucósido foi a antocianina maioritária (1,70 μg/kg dw). Recorrendo a uma análise molecular e, utilizando as partes aéreas do indivíduo in vivo como controlo externo, foi possível distinguir os indivíduos crescidos in vitro, linhas A e B, com base em diferenças fenotípicas. O cluster ISSR não mostrou correlação entre as amostras obtidas in vivo e in vitro (índice de similaridade inferior a 0,30). Os indivíduos obtidos in vitro revelaram um maior índice de similaridade (0,70), o que indica que as variações genéticas são baixas e não podem explicar as diferenças fenotípicas encontradas entre os dois clones. A cultura in vitro pode ser útil para explorar as potencialidades das plantas para aplicações industriais, controlando as condições ambientais para produzir maior quantidade de alguns produtos bioactivos. Pode ser também utilizada para explorar novas potencialidades industriais, farmacêuticas e medicinais, nomeadamente a produção de metabolitos secundários tais como voláteis e compostos fenólicos.

publication date

  • November 1, 2011