As liberdades de um tradutor: o caso dos discursos de Salazar em inglês Artigo de Conferência uri icon

resumo

  • O período do Estado Novo ficou marcado por diversas ações de soft power, designação atribuída à estratégia comunicacional e política sem intervenção de poderio militar, como a publicação de textos sobre o regime em línguas variadas. A intenção era causar um impacto positivo na imagem de Portugal junto de determinados países e culturas na tentativa de influenciar uma postura política benéfica. Foi neste sentido que se traduziram discursos proferidos pelo ditador António Oliveira Salazar e publicados sob a forma de livro e em brochuras avulso, ao longo de várias décadas. Este trabalho incide sobre a forma como o tradutor Robert Broughton processou os textos portugueses que acabaram publicados pela Faber and Faber numa monografia inglesa intitulada de Doctrine and Action (1939). O tradutor, que Venuti (1995) debate como sendo uma entidade invisível ao longo de séculos, foi, neste caso concreto, visível e notório. Para além de encurtar o texto de chegada face ao texto de partida através de omissões inexplicadas, o tradutor emprega uma série de estratégias de tradução que o tornam visível ao longo dos 23 discursos contidos na obra. O estudo qualitativo na base deste trabalho é o resultado de uma análise desenvolvida num corpus bilingue e paralelo de texto integral alinhado a nível de parágrafo, sendo a unidade de análise a frase ortográfica. O trabalho pretende dar a conhecer as liberdades tomadas pelo tradutor, num texto que o regime certamente encarava como autoritário e, como tal, intocável. Serão também perspetivadas algumas razões que poderão ter estado na origem desta forma de atuação por parte do tradutor numa época em que tal não era permitido a tradutores nacionais, como a investigação desenvolvida provará.

data de publicação

  • janeiro 1, 2021