Neste capítulo problematiza-se a forma como os futuros professores vivenciam alguns espaços da sua formação, nomeadamente na Unidade Curricular de Prática de Ensino Supervisionada (PES), nas interações que estabelecem com os supervisores institucionais e os orientadores cooperantes, e como se (re)veem e refletem nesses e sobre esses espaços. No estudo participaram formandos que frequentavam, no ano letivo de 2016/2017, o curso de Mestrado em Educação Pré-escolar e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico, numa Escola Superior de Educação do nordeste transmontano. Damos, assim, continuidade a um estudo reportado ao ano letivo 2015/2016 (Mesquita, & Machado, 2017a, 2017b), no qual salientamos a importância que a reflexão sobre a práxis assume no processo de formação, uma vez que influencia a consciencialização da complexidade do ato de ensinar, pressupõe questionamento, análise e transformação e conduz a mais e melhor aprendizagem e, por conseguinte, a um enriquecimento pessoal e profissional. Usando a reflexão antes, durante e após a ação (as distintas fases do ciclo supervisivo), a formação do futuro professor é mais criteriosa, ponderada e comprometida com o processo de formação profissional, uma vez que possibilita o aperfeiçoamento e o desenvolvimento de competências a partir da identificação e tomada de consciência de fragilidades do eu e do outro e da experienciação de modos de pensar e ser professor. Ainda nesse estudo focamo-nos no próprio discurso dos participantes com o objetivo de compreendermos como percecionavam a sua evolução como pessoas e como profissionais e, servindo-nos das categorias da Target Language Observation Scheme (TALOS), procedemos à análise de conteúdo das reflexões sobre as aulas observadas e sobre as quais transpareceu um autorretrato da prática profissional, que nos revelou uma conclusão mais geral e que se traduziu num processo de aperfeiçoamento das capacidades de observação e de auto-observação dos formandos. O estudo que agora apresentamos sustenta-se também numa metodologia de natureza qualitativa e o campo de investigação incide, especificamente, sobre as narrativas de práticas de formação de futuros professores, envolvendo todos os atores do triângulo supervisivo (formandos, supervisor institucional e orientador cooperante). Este capítulo estrutura-se em quatro partes. Na primeira, aborda a formação inicial enquanto processo e a centralidade da autonomia do formando. Na segunda, caracteriza um processo de observação das práticas que vise promover a reflexividade dos formandos. A terceira e a quarta dão conta de um processo que visa promover a reflexividade, primeiro, sobre as práticas a observar e, depois, sobre a prática supervisionada.