Atualmente, a Sociologia das Profissões, de origem anglo-saxónica e inspiração neoweberiana, abandonou a discussão sobre os critérios que podem definir o ideal tipo de profissão (Sacks, 2010). Contudo, continua a colocar a hipótese do profissionalismo resistir à lógica das organizações burocráticas, especialmente quando estas dependem, funcional e institucionalmente, da autoridade legal do Estado (Noordegraaf, 2007). Em consequência, continua-se a reproduzir uma explicação sobre a profissionalização do trabalho na base da existência de uma potencial dicotomia entre burocracias e profissões. Isto é, uma perspetiva de análise que legitimou, e legítima, dois modelos de explicação para o poder profissional: o modelo continental e o modelo liberal (Sciulli, 2005). No entanto, reconhece-se que na Europa Ocidental, primeiro devido ao desenvolvimento do Estado Providência e depois devido ao desenvolvimento da New Public Management (NPM) há uma progressiva convergência histórica na análise sobre o poder das profissões que tende a superar as divergências existentes (Svensson e Evetts, 2010).
Esta convergência histórica pode ter uma fundamentação teórica weberiana. Burocratização e profissionalização podem ser vistos como dois fenómenos que coexistem e que se reforçam mutuamente no quadro de processos de racionalização da vida social, embora se reconheça que ambos podem ser considerados como modalidades diferenciadas de ação racional e que o princípio da colegialidade profissional possa ser parcialmente subsumido pela lógica organizacional (Waters, 1989; 1993). Do nosso ponto de vista, burocracia e profissão podem ser compatíveis, porque partimos do pressuposto que um dos critérios que melhor descreve o desenvolvimento histórico do trabalho profissional é a existência de grupos profissionais que, no fundamental, devem o seu estatuto social a uma educação escolar e científica prolongada e à posse de um diploma de ensino superior, ou seja: um trabalho qualificado baseado em ciência e em conhecimento abstrato (Brante, 2010; Abbott, 1988; Champy, 2011; Caria, 2005, 2006, 2012).
Na atualidade, os conceitos de ‘burocracia profissional’, de ‘pós-burocracia’, de ‘profissionalismo organizacional’ e de “legitimação da institucionalização racional das organizações” (Mintzberg, 1979; Johnson et al. 2009; Evetts, 2012; Meyer e Rowan, 1977) são bons exemplos de possibilidades analíticas disponíveis para perceber as modalidades de coexistência das burocracias com as profissões nas sociedades capitalistas. O desenvolvimento mais recente da NPM permite especificar esta coexistência em organizações do terceiro sector que têm parcerias para o desenvolvimento de trabalho de serviço social, no âmbito das políticas e programas do Estado Providência, numa sociedade pós-industrial (Bezes, et al. 2011; Evers, 1995; Salomon e Anheier, 1998).
Neste capítulo desenvolvemos o conceito de trabalho profissional burocrático (TPB) procurando encontrar um modelo de análise que permita entender as diferentes configurações da profissionalização do trabalho por relação com a diversidade histórica das formas de racionalização das organizações, geralmente designadas como burocratização (Heydebrand, 1989).