Tendências temporais da mortalidade por carcinoma do colo do útero em portugal: 1955-2014
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O carcinoma do colo do útero (CCU) é das neoplasias mais frequente e uma das principais causas de morte por cancro na população feminina (Alves, Alves, & Lunet, 2010), mas há meios de prevenção e deteção precoce (Goodman, 2015). Nestas circunstâncias, a monitorização da evolução temporal da mortalidade por CCU adquire importância em saúde pública, pois reflete a abordagem global dos sistemas de saúde ao problema e permite detetar tendências desfavoráveis que exijam a reavaliação de estratégias implementadas.
Objetivo: Com este estudo pretendeu-se avaliar a tendência temporal da mortalidade por CCU em Portugal nos últimos 60 anos. Metodologia: Através da International Agency of Cancer Investigation (IARC), obtiveram-se taxas de mortalidade por CCU (padronizadas para a idade) reportadas em Portugal entre 1955 e 2014 (WHO; 2016). Utilizando análise de regressão linear segmentada, obtiveram-se segmentos de reta separados por pontos de inflexão (anos de mudança significativa na evolução temporal). A partir do declive dos segmentos de reta obteve-se a percentagem de variação anual (%VA) da taxa e respectivo intervalo de confiança a 95% (IC95%) de acordo com a idade (25-39; 40-54; 55-64 e >=65 anos).
Resultados: No grupo com 25-39 anos, a mortalidade por CCU diminuiu 1,9 % ao ano, durante todo o período (IC95%:-2,3;-1,5), atingindo 0,5/100.000 em 2014. Nas mulheres com 40-54 anos houve decréscimo acentuado entre 1971 e 1981 (%VA=-11,2; IC95%:-13,7;-8,8), com subsequente aumento de 1,9% ao ano (IC95%:0,5;3,4) até 2001, mas que reverteu a partir desse ano (%VA=-3,4; IC95%:-5,7;-1,1), atingindo 3,8/100.000 em 2014. A mortalidade por CCU variou entre 32,6 e 7,3/100.000 e entre 48,2 e 8,2/100.000, respectivamente, nas mulheres com 55-64 e com 65 ou mais anos. Nestes dois grupos o decréscimo ocorreu principalmente entre 1970 e 1980, não havendo variação significativa da taxa nas últimas três décadas
Conclusões: No grupo mais jovem houve redução significativa da mortalidade por CCU que provavelmente reflecte o impacto positivo das consultas de planeamento familiar e de vigilância pré-natal na adesão ao rastreio para detecção precoce de CCU. Nos grupos de idade mais avançada, a mortalidade por CCU mantém-se praticamente inalterada desde início da década de 80, sugerindo ineficácia dos meios e estratégias disponíveis para detecção precoce desta patologia. Os resultados sugerem a necessidade de reformular estratégias de prevenção e vigilância para CCU, existentes em Portugal.
Referências
Alves, C., Alves, L., & Lunet, N. (2010). Epidemiology of Cervical Cancer. Arquivos de Medicina, 24(6), 266-277.
Goodman, A. (2015). HPV testing as a screen for cervical cancer. Bmj, 350, h2372. doi: 10.1136/bmj.h2372
WHO (2016). Cancer mortality data base. Lyon, France: Internantional Agency for Research on Cancer. Available from Retrieved 6th July, 2016 http://www-dep.iarc.fr