Aproveitamento hidroelétrico do baixo Sabor - programa integrado de monitorização ambiental
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O Aproveitamento Hidroelétrico do Baixo Sabor (AHBS), localiza‐se na região de
Trás‐os‐Montes, no troço inferior do rio Sabor, um dos principais afluentes da margem direita do
rio Douro e o primeiro em território português. É composto por duas barragens: escalão de
montante ou barragem principal (designada no Estudo Prévio como escalão principal, localização
de montante) e escalão de jusante (designada no Estudo Prévio como contraembalse). Estas
barragens situam-se no concelho de Torre de Moncorvo e localizam-se, respetivamente, a 12,6 e
a 3 km da foz do rio Sabor.
A albufeira associada ao escalão de montante estende-se ao longo de 60 Km, ocupando áreas
dos concelhos de Torre de Moncorvo, Alfândega da Fé, Mogadouro e Macedo de Cavaleiros.
Esta albufeira, com uma capacidade total de 1095 hm3, inunda uma área de 2820 ha ao nível de
pleno armazenamento (NPA) à cota 234,00. A albufeira associada ao escalão de jusante
estende-se ao longo de 9,6 Km, com uma capacidade total de 30 hm3 inunda uma área de 200
ha ao nível de pleno armazenamento (NPA) à cota 138,00.
Os vários estudos efetuados entre 1996 e 2003, incluindo os estudos realizados no âmbito de
dois processos de Avaliação de Impacte Ambiental, reconheceram o elevado impacte do AHBS
sobre os sistemas ecológicos, nomeadamente devido ao facto do empreendimento afetar
significativamente uma área de grande valor para a biodiversidade, reconhecida a nível da União
Europeia e, como tal, incluída na Rede Natura 2000. Assim, o Programa Integrado de Monitorização Ambiental (PIMA) do AHBS foi estruturado em
duas grandes componentes: a primeira, envolvendo a monitorização geral dos descritores
ambientais e a segunda, envolvendo a monitorização das medidas de compensação.
Este estudo foca a monitorização do descritor ambiental dos Ecossistemas Aquáticos do PIMA
nomeadamente o elemento biológico fauna piscícola em 3 estações em meio lótico e 4 estações
em meio lêntico, permitindo uma caracterização da comunidade na fase de enchimento.
A amostragem da fauna piscícola em meio lótico foi realizada segundo a Diretiva Quadro da
Água. No caso da amostragem realizada nas estações localizadas em meio lêntico, foi utilizada a
técnica de captura por redes de emalhar, complementada com a realização de pesca elétrica nas
margens.
Relativamente às estações localizadas em meio lêntico, foi possível verificar uma disparidade
entre as comunidades ictías analisadas nos dois escalões do AHBS e as comunidades presentes
nas estações de controlo (cursos de água). Nas estações de controlo as espécies nativas foram
dominantes, em número de indivíduos, representando 91% da comunidade, enquanto nas
albufeiras dominou a comunidade de espécies exóticas com 81% da comunidade piscícola. As
espécies A. alburnus (Ablete) e L. gibbosus (perca-sol) dominaram nas albufeiras de jusante e
montante, ao passo que P. duriense (boga-do-Norte) e S. carolitertii (escalo-do-Norte) estiveram
presentes em maior abundância nas estações de controlo.
Analisando a origem das espécies dentro de cada albufeira verificou-se que, para o escalão de
montante, cerca de 77% da população de ictiofauna capturada é exótica e que as espécies
nativas representavam, à data, cerca de 22% da comunidade. Relativamente ao escalão de
jusante os valores foram semelhantes, apresentando 83% de espécies exóticas e 17% de
espécies nativas. Globalmente, a albufeira (escalões de montante e jusante) apresentou 81% de
espécies exóticas contrastando com as espécies nativas presentes em apenas 19% da
comunidade piscícola amostrada.
No conjunto das espécies capturadas no escalão de montante, L. gibbosus representou mais de
metade da comunidade amostrada (56%), seguindo-se A. alburnus com 15% e P. duriense
(13%), que se encontra atualmente com estatuto de conservação VULNERÁVEL (VU) segundo
The IUCN Red List of Threatened Species. Quanto ao escalão de jusante, a espécie A. alburnus
dominou, representando 72% da amostra, seguindo-se L. bocagei com 15% e L. gibbosus com
7% do total da comunidade amostrada.
A dominância de espécies exóticas tolerantes está associada à alteração do meio lótico para
lêntico, acelerando a modificação da composição das comunidades piscícolas constatada entre
as estações de controlo e as albufeiras. Esta alteração na composição da comunidade piscícola,
com regressão das espécies nativas, foi extremamente rápida imediatamente após o enchimento
da albufeira, correspondendo à fase de maturação, a qual evidenciou já uma clara anoxia
hipolimnética estival. Este facto demonstra a dificuldade em impor medidas de ordenamento
eficazes que evitem a disseminação das espécies exóticas.