Do combustível a recurso forrageiro: realidade, possibilidade ou miragem?
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resumo
A Estratégia Nacional para as Florestas (ENF), no seu eixo estruturante - minimização dos riscos dos incêndios e agentes bióticos - prevê a gestão de combustíveis através do pastoreio como medida de redução das áreas de matos com incêndios no verão.
A promoção desta “nova-velha” arte de gestão dos combustíveis pressupõe que os combustíveis possam ser percebidos como recursos alimentares, tanto por herbívoros como por pastores que ao assumirem a condução dos rebanhos selecionam o território a pastorear.
Os combustíveis nem sempre são percecionados como recursos alimentares porque não são selecionados à escala da comunidade ou da paisagem.
Neste trabalho pretende-se evidenciar que quando a inflamabilidade tem um padrão divergente da palatibilidade, o consumo dos materiais vegetais combustíveis precisa de ser equacionado como uma prestação de serviço do rebanho.
Os trágicos incêndios do Pinhal
Interior Norte de 2017 mais uma vez
revelaram a extrema vulnerabilidade
da floresta ao fogo e a premência em
encontrar meios eficazes de gestão dos
combustíveis. A Estratégia Nacional para as
Florestas (ENF). no seu eixo estruturante
- minimização dos riscos dos incêndios
e agentes bióticos - prevê a gestão de
combustíveis através do pastoreio como
medida de redução das áreas de matos
com incêndios no verão. A promoção
desta "nova-velha" arte de gestão dos
combustíveis é complexa, a possibilidade
de transformar combustíveis em recursos
alimentares reclama a integração de
conhecimentos multidisc1plinares O tipo de
recurso/combustível condiciona o tipo de
animal - herbívoro-pastador ou lignívoro -
a utilizar: o consumo de combustíveis não
palatáveis pressupõe o seu enquadramento
como serviço e não como forma produtiva.
entre outros. O objetivo deste estudo foi
avaliar a variação da dieta ao longo do ano
de caprinos da raça Serrana conduzidos
em sistema de pastoreio de percurso
no Nordeste de Portugal, identificar a
variação anual da preferência alimentar
relativamente às espécies arbustivas mais
representativas e comparar os valores de
preferência com inflamabilidade. A variação
do índice de preferência relativo às espécies
arbustivas presentes na dieta de caprinos
e a inflamabilidade das mesmas mostra
que no verão, a generalidade das espécies
tem uma boa aceitação pelos caprinos,
no entanto os resultados mostraram que
palatabilidade e inflamabilidade não variam
no mesmo sentido. No caso das ericáceas
(Erica sp.) e esteva (Cistus ladanifer), a
inflamabilidade é muito elevada (nível
máximo) no verão e o valor de preferência,
variou entre espécie recusada a pouco
preferida, verificando-se o contrário para
as silvas (Rubus sp) classificada como
inflamável (nível intermédio) e muito
preferida . Ora estes resultados sugerem
que o consumo de diversas espécies
combustíveis não é interessante do ponto
de vista produtivo animal e que a sua
remoção deve ser enquadrada como
um serviço No entanto, o serviço de
remoção biológica de combustíveis deve
ser enquadrado tecnicamente de modo
a que os animais não tenham quebras
produtivas significativas e/ ou executado no
respeito pelo bem-estar animal, no caso de
rebanhos especialmente treinados para o
efeito.