O setor das plantas aromáticas e medicinais e sua relação com leguminosas pratenses e forrageiras: uma reflexão
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O número de jovens agricultores que se instalaram recentemente e os que projetam
instalar-se nos próximos tempos no setor das plantas aromáticas e medicinais
(PAM) é considerável. Todos os que se instalaram para produzir biomassa para secar
adotaram genericamente o mesmo modelo: produzir em modo biológico com tela de
solo para controlar as infestantes. Acontece que a maior parte das explorações que
se instalou de acordo com este modelo, apercebe-se, ao fim do primeiro ano, que ele
não funciona. O modo biológico não é sustentável se não envolver uma importante
componente pecuária ou integrar leguminosas com acesso ao azoto atmosférico nos
sistemas de cultivo. Não há agricultura sem azoto. Em sistemas de agricultura em
que não é permitido azoto de fertilizantes de síntese industrial, como é o caso da
agricultura biológica, têm de ser encontradas alternativas de para o introduzir no sistema
por processos naturais. Como a generalidade das atuais explorações dedicadas
à produção de PAM não tem área nem sistemas de produção que lhes permita integrar
animais, a única alternativa será a integração de leguminosas no sistema. Por outro
lado, o cultivo sobre tela de solo restringe a aplicação de fertilizantes ao sistema de
rega gota-a-gota, pelo que nem o uso de estrumes é possível. Acrescente-se, que os
fertilizantes líquidos passíveis de ser utilizados em fertirrega e autorizados para agricultura
biológica têm preços que não são comportáveis por esta atividade.
É urgente encontrar um novo modelo de produção. De contrário, o setor das PAM
desaparecerá de forma ainda mais rápida do que aquela com que se instalou. Na prática
é necessário abandonar a tela (ainda que isso levante um problema suplementar
que é o controlo das infestantes) e introduzir leguminosas no sistema. Outra dificuldade
reside no fato de as principais espécies atualmente cultivadas serem perenes,
exploradas em regime de cortes múltiplos, ficando instaladas vários anos no mesmo
terreno (limonete, cidreira, tomilho, …), o que reduz as possibilidades de integrar leguminosas
na rotação. Contudo, como todas elas são plantas que fazem repouso vegetativo
no inverno, existe uma janela de oportunidade, que é o cultivo de leguminosas
no inverno durante o repouso vegetativo das PAM cultivadas. As espécies candidatas
serão leguminosas anuais de ressementeira natural e ciclo curto para a constituição
de coberturas vivas no inverno e mulches de material morto no verão, e espécies de
porte ereto para usar como sideração, tais como favas, ervilhacas e tremoceiros. Encontrada
a leguminosa certa, com ciclo biológico assincrónico com a espécie PAM cultivada,
é necessário pensar que alterações terão de ser introduzidas nos sistemas de
cultivo. Genericamente será necessário repensar os compassos, os equipamentos para
incorporar as leguminosas se for o caso, e novos métodos de controlo das infestantes.