Introdução de leguminosas pratenses em olival de sequeiro: balanço de quatro anos de investigação
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resumo
A introdução de cobertos vegetais em culturas perenes, também designada de
enrelvamento das entrelinhas, é uma técnica cultural com reconhecidas vantagens.
O coberto vegetal protege o solo da erosão, promove o sequestro de carbono no solo
aumentando o seu teor em matéria orgânica e favorece a transitabilidade de tratores
e equipamentos agrícolas. Se forem usadas leguminosas é introduzido azoto no solo
que pode dispensar a aplicação de fertilizantes azotados. Contudo, em pomares de
sequeiro, como acontece na generalidade do olival transmontano, a técnica tem de
ser vista com particular atenção. Os cobertos competem pelos recursos, em particular
pela água. Alguns estudos mostraram que a introdução de cobertos vegetais reduz a
produção de azeitona. Assim, em olival de sequeiro, as espécies usadas nos cobertos
vegetais devem apresentar ciclos biológicos assincrónicos com o das oliveiras, i.e., o
seu desenvolvimento deve ocorrer no período outono/inverno, quando as oliveiras se
encontram em repouso vegetativo. Por outro lado, devem ser usadas espécies leguminosas,
que possam aceder a azoto atmosférico e contribuir para o incremento da
fertilidade do solo. O uso de gramíneas nos cobertos é dispensável. Mesmo semeando
só leguminosas, logo que a disponibilidade de azoto no solo melhora, a grande dificuldade
do olivicultor passará a ser o controlo das gramíneas (espontâneas) nos cobertos.
Neste trabalho resumem-se alguns dos resultados mais relevantes obtidos nos últimos
anos em ensaios de campo em que se ensaiou a introdução de leguminosas anuais de
ressementeira natural e ciclo curto em olival de sequeiro. Os estudos incluíram 11
espécies/cultivares cultivadas em estreme e em mistura. Os resultados mostraram
que os cobertos bem estabelecidos podem acumular na parte aérea quantidades de
azoto a variar entre 50 e 180 kg N/ha dependendo da espécie/cultivar e do ano. Em
consequência, as oliveiras cultivadas em talhões com leguminosas atingiram teores
de azoto nas folhas e produtividades superiores a tratamentos com vegetação natural
em que se aplicaram 60 kg N/ha. A proteção do solo mostrou-se eficaz durante todo o
ano, na medida em que persiste à superfície um coberto de vegetação viva de outubro
até abril e um mulch de material morto durante o fim da primavera e o verão. A
atividade biológica do solo e a ciclagem de nutrientes, em particular azoto e carbono,
aumentaram significativamente. Contudo, foi registado um resultado menos positivo
e mais ou menos inesperado. O teor de carbono no solo na camada subsuperficial (10-
20 cm) reduziu-se no talhão de leguminosas. Parece que o azoto inorgânico gerado à
superfície pode atingir camadas inferiores e promover a atividade biológica do solo
também nessas camadas, sendo o ritmo de degradação da matéria orgânica nativa
superior à deposição de novo substrato orgânico introduzido pelo sistema radicular
das plantas. Estudos futuros deverão dar particular atenção a este aspeto devido ao
seu significado ecológico.