Otimização do funcionamento do sistema de adução da Vilariça. Condições hidrodinâmicas e habitacionais favoráveis à reprodução do barbo e sua importância nas medidas de compensação do AH Baixo Sabor Conference Paper uri icon

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  • O presente estudo realizou-se na Ribeira da Vilariça, afluente do Rio Sabor, cuja foz se localiza a jusante do escalão de jusante do Aproveiramento Hidroelétrico do Baixo Sabor (AHBS). Um dos principais impactes associados à construção do AHBS é o efeito barreira criado pela infraestrutura que impede o fluxo migratório de espécies de peixes como o barbo comum (Luciobarbus bocagei) e a boga do Norte (Pseudochondrostoma duriense), espécies potamódromas, que realizam migrações significativas da albufeira da Valeira para o Rio Sabor. Este estudo incidiu especificamente no Sistema de Adução criado no âmbito da Medida Compensatória 1 (MC1 – Habitat de Compensação da Vilariça), tendo como objetivo principal a definição e concretização de ações que visam a otimização do seu funcionamento no que respeita à atratividade de peixes reprodutores. Os trabalhos pretenderam averiguar os efeitos da alteração dos caudais nas comunidades piscícolas, através da avaliação do funcionamento ecohidráulico das estruturas construídas na ribeira da Vilariça e elaboração do planeamento de gestão operacional do sistema de adução da Vilariça. Numa primeira fase, foi realizada a determinação dos fatores ambientais que condicionam os ciprinídeos autóctones, particularmente as populações de Barbo. Procurou-se relacionar uma matriz de dados biológicos resultantes das capturas de peixes, que discrimina dados como sexo, idade (adulto ou juvenill), estado de maturação (fecundação e desova) e presença de outras espécies nativas e exóticas, com uma matriz de dados ambientais que incluí variáveis do habitat, como comprimento do troço amostrado, largura média, distância à margem mais próxima, distância à foz, cobertura, substrato, profundidade e velocidade da corrente. O trabalho proposto procurou definir o(s) caudal(is) no sentido de otimizar as condições de desova dos ciprinídeos autóctones e ao mesmo tempo criar condições habitacionais para a permanência dos reprodutores. Utilizou-se o Método do Perímetro Molhado para obter uma relação entre o habitat submerso (e teoricamente disponível) e os caudais que escoam num troço de um curso de água, partindo do princípio que existe uma relação diretamente proporcional entre tais perímetros e a capacidade biogénica do rio. Foi efetuada a observação in situ dos locais de desova com o objetivo de conhecer o habitat mais adequado para a desova, em função dos locais de deposição das posturas. Houve também a necessidade de contemplar, do ponto de vista hidráulico, a transposição dos obstáculos na ribeira da Vilariça (introduzidos para melhoria do habitat piscícola). As observações in situ dos locais de desova e dos indivíduos permitiram verificar que a proporção de barbos machos nos diversos troços foi sempre superior à proporção de fêmeas, de modo significativo e que, de um modo geral, os barbos efetuam as posturas essencialmente em locais de baixa profundidade e onde se registam valores moderados a elevados de velocidade. Associados a estes fatores de escoamento, estão maioritariamente zonas de substrato formado por cascalho, sem qualquer tipo de cobertura. A ordenação canónica revelou que, em termos longitudinais (distância à foz), a distribuição espacial de indivíduos é relativamente homogénea. Por outro lado, a CCA forçada pelos dados ambientais permitiu realçar que os barbos juvenis preferem zonas de menor velocidade mas mais profundas. Denotou-se ainda que os barbos após a fecundação apresentam habitats distintos (superiores velocidades e profundidades). As curvas de reposta mostraram efetivamente um padrão distinto dos juvenis e de certo modo também das fêmeas pré-reprodução, que preferem zonas de menor velocidade mas mais profundas. A época da reprodução conduz à procura de habitats com maior corrente e de substrato de areia grossa a cascalho, com maior luminosidade, águas pouco profundas e leitos mais homogéneos, iniciando-se e os movimentos migratórios desde finais de Abril até Julho, altura adequada para a libertação do caudal. Um caudal suplementar (caudal base e caudal extra) próximo 2 m3/s, durante um período relativamente curto, nos primeiros dias de início do processo reprodutivo, revelou-se como um efeito muito positivo no processo de atração das populações de boga e barbo para a Ribeira da Vilariça. No entanto, a elevada profundidade da lâmina de água sobre o descarregador não é um fator positivo na passagem dos barbos, prejudicando o processo de migração. Deste modo caudais superiores a 1,25 ou 1, 50 m3/s, podem ter um efeito contraproducente nas rampas e descarregadores dos troncos. De forma a evitar fenómenos de repulsa das populações é recomendado que se mantenham estes valores de caudal estáveis durante o período reprodutivo. As alterações de caudais propostas ao longo do período reprodutivo, devem acautelar um regime de transição suave, com um gradiente de caudais intermédios de período nunca inferior a 12h.

publication date

  • January 1, 2018