Envelhecimento bem-sucedido, participação social e qualidade de vida: um estudo multicêntrico e multimétodo
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Nas últimas décadas, vários modelos de envelhecimento bem-sucedido (EBS)
contribuíram para esclarecer as relações entre qualidade de vida e bem-estar.
Revisões sistemáticas têm reunido evidência sobre os contributos da
participação social para envelhecer bem. Assim, estabeleceu-se como
objectivo deste estudo analisar o bem-estar e qualidade de vida em iniciativas
de base comunitária.
Para o efeito estabeleceu-se incluir pessoas com 55+ anos a frequentar
Programas de Intervenção Autárquica (PIA; Grupo Referência; n = 152) e um
grupo que não frequenta este tipo de actividades (Não-PIA, Grupo
Comparação; n = 152), em três zonas territoriais do país onde se ministra
formação superior em Gerontologia. Na recolha de dados utilizou-se um
protocolo de avaliação gerontológica multidimensional, designadamente
MMSE, SWLS, Ryff-18, Lubben-6, SOC, WHOQoL-Breve, e um
questionário elaborado para o efeito para avaliar características
sociodemográficas e participação social.
Fazem parte deste estudo 304 participantes, predominantemente mulheres (n
= 114; 75%), pertencentes à terceira idade (65+ anos; 91,2%), distribuídos igualmente por Viana do Castelo (n = 104), Bragança (n = 100) e Coimbra (n
= 100), média de idades de 71,5 anos (DP=5,7; Min 55 e Max 84 anos), com
escolaridade inferior a 4 anos (n = 216; 71,1%), maioritariamente casados (n
= 204; 67,1%).
Comparando o grupo PIA (GRef) com não-PIA (GComp) para amostras
emparelhadas relativamente à qualidade de vida (QoL), o grupo de referência
apresenta uma média superior na faceta saúde física (dif Médias 1,1; t (151) =
2,3; p<0,03). No caso dos mais velhos (75-84 anos), observa-se que o
bem-estar psicológico global é superior no GRef (dif Médias 6,2; t (43) = 3,8;
p <0,001), assim como nas estratégias adaptativas (SOC-Global; diferença
de médias 1,2; t (43) = 2,2; p <0,04). Nas dimensões do bem-estar
psicológico observam-se diferenças significativas na autonomia (dif Médias
1,3; t (43) = 2,2; p <0,04), bem como objectivos na vida (dif Médias 2,2;
t(43) = 3,7; p <0,001). Quanto à QoL, o GRef apresenta uma média
superior na faceta da saúde física (diferença de médias 1,1; t(151) = 2,3; p
<0,03). Porém, no grupo dos 65-74 anos os valores médios do GRef na
QoL são mais elevados na saúde física (dif Médias 1,7; t(95) = 2,7; p
<0,009), o mesmo se observando no bem-estar psicológico - domínio do
meio (dif Médias 0,8; t(95) = 2,0; p <0,05). Relativamente ao estado
mental (MMSE) não se observaram diferenças significativas entre grupos
etários, o mesmo acontecendo com as relações sociais (Lubben-6). O Défice
Cognitivo Ligeiro é de 16% na amostra global. Concluindo, os resultados
obtidos sugerem um comportamento distinto no bem-estar e qualidade de
vida (QoL) em função da participação em PIA e dos grupos etários.
Claramente as pessoas não beneficiam da mesma maneira com a participação
social. As Políticas Públicas devem ter estes resultados em consideração ao
estabelecer medidas programáticas para o envelhecimento ativo e bemsucedido