A questão essencial que se coloca a uma nova profissão é a sua pertinência social real e simbólica no contexto das profissões e ocupações já existentes. A pertinência social da gerontologia está ligada aos fenómenos demográficos do envelhecimento nas sociedades ocidentais, assim como à exigência crescente da qualidade dos cuidados prestados à pessoa idosa. Nestas sociedades a proporção de idosos e muito idosos aumenta constantemente, atingindo, na atualidade, valores próximos dos 20% em muitos países da EU, incluindo Portugal, sendo igualmente previsível que esses valores se aproximem dos 30% no ano 2050 (Giannakouris, 2008). Esta problemática tem, entre outros, contornos políticos, económicos, culturais, psicossociais, médicos e humanos. Sendo igualmente certo que das culturas que valorizam e respeitam os idosos pela sua sabedoria, às culturas e ritmos de vida ocidentais que reservam aos idosos o estatuto de improdutivos e de inúteis, todas elas enfrentam a necessidade de cuidar dos seus idosos.
Na sociedade portuguesa o apoio aos idosos esteve até, digamos uma década atrás, entregue aos cuidados informais, baseados em laços de família, amizade e de vizinhança. Existe assim um capital, real e simbólico, inerente aos cuidados informais de idosos que importa preservar e aproveitar, tanto mais porque o apoio aos idosos, passa, incontornavelmente, pela adequação destas formas de cuidados informais aos desafios dos dias de hoje e, outrossim, pela sua sinérgica articulação com os sistemas de cuidados formais. Cuidadores formais e cuidadores informais carecem de encontrarem plataformas de entendimento e atuação sinérgica (Sousa, Figueiredo, & Cerqueira, 2004).
Com a crescente incapacidade de resposta dos sistemas de cuidados informais às necessidades dos idosos (cada vez em maior número e exigindo mais cuidados especializados), emergiu, muito naturalmente a necessidade de conceber e desenvolver estruturas de apoio e de acolhimento aos idosos, assim como, a necessidade de formar e qualificar recursos humanos qualificados. Ganhou assim conteúdo, forma e relevância social a Gerontologia.
Paralelamente, a Gerontologia foi também ganhando contornos de disciplina académica. Segundo Lowenstein (2004) a Gerontologia, desde os anos 90, evidencia um quadro de valores próprios, um caráter interdisciplinar operando tecnologias específicas e é suportada por programas académicos reconhecidos internacionalmente. Já antes, porém, Bramwell (1985) havia considerado a Gerontologia como uma disciplina académica ao assinalar as seguintes características: um tema central distinto que é o estudo do envelhecimento humano na perspetiva do ciclo de vida; metodologias de investigação próprias como sejam o estudo de marcadores biológicos da idade (no campo da bioquímica e ciências afim) e metodologias qualitativas e fenomenológicas (no campo das ciências sociais e humanas); uma comunidade académica ativa e organizada e; por último, uma atividade intelectual contínua plasmada em inúmeras publicações científicas periódicas e não periódicas.
Na Europa, o aparecimento de programas de estudo da área da Gerontologia dá-se através de programas de especialização e de pós-graduação. Esta particularidade permitiu manter a um nível relativamente baixo a problemática inerente ao aparecimento de novas profissões e de novos profissionais. Estes programas foram, e continuam a ser, muito frequentados por profissionais como: psicólogos, médicos, enfermeiros, assistentes sociais, entre outros. De facto, embora especializados ou pós-graduados em Gerontologia, o capital real e simbólico desses profissionais continuava a ser dado pelas suas formações académicas iniciais, total ou parcialmente, reconhecidas no campo das ciências sociais e da saúde.
Em Portugal, o aparecimento de programas de bacharelato e de licenciatura (cursos de primeiro ciclo na nomenclatura de Bolonha) em Gerontologia dá-se na última década. Portugal é mesmo pioneiro a este nível, com duas instituições de ensino superior a facultarem estes programas de formação académica inicial. Assim, na atualidade, estão a sair para o mercado de trabalho os primeiros gerontólogos, sendo legítimo esperar reajustamentos ao nível do capital real e simbólico dos profissionais acima referidos que de alguma forma estejam envolvidos nas questões dos idosos e do envelhecimento. Também na atualidade, acompanhando o reconhecimento crescente do envelhecimento demográfico e da necessidade de qualificar recursos humanos na área, outras instituições de ensino superior oferecem cursos de primeiro ciclo em Gerontologia e em Gerontologia Social.