O manual da safra e contra safra do olival é dirigido de forma particular a agricultores
e técnicos da região de Trás-os-Montes e de outras zonas do país onde se mantenha
interesse no olival tradicional de sequeiro. A rega, contudo, não foi esquecida, sendo vista
como uma das poucas alternativas à revitalização do sector.
O olival de sequeiro encontra-se hoje no limiar da viabilidade técnica e económica.
Devido às condições marginais em que é cultivado, e a uma técnica cultural normalmente
de qualidade insatisfatória, é nestes olivais que o fenómeno da safra e contra safra
se torna mais evidente.
Trás-os-Montes é uma região economicamente deprimida onde as pequenas aldeias
têm perdido população a ritmo acelerado. Poucas freguesias mantêm ainda escola primária,
devido à reduzida natalidade. Poucos são os jovens que projectam o seu futuro e o das suas
famílias baseado na actividade agrícola. O interior do país nunca desenvolveu actividade económica
relevante fora do sector agrícola. A actividade industrial é ténue. As cidades de maior
dimensão como Vila Real, Bragança, Chaves e Mirandela têm resistido à perda de população
nas sedes de concelho devido a algum investimento público (ensino superior, saúde, …) que
assegura poder de compra às populações e permite o aparecimento de pequenas empresas
de dimensão regional (construção, restauração, serviços, …). As vias de comunicação que
lentamente foram sendo construídas nunca foram estímulo suficiente para cativar investimento
industrial significativo para a região.
O olival de sequeiro mantém ainda hoje importância social e económica determinante
na região, sendo a olivicultura das poucas actividades em meio rural com capacidade
para gerar rendimento e contribuir para a fixação da população. Os decisores políticos
e as autoridades locais devem ter presente que todos os esforços devem ser feitos para
manter estes sistemas em produção.
É necessário ter a noção de que não há condições realistas para, a curto prazo/
médio prazo, se modificar a estrutura produtiva do olival. Os sistemas de plantação que
actualmente se utilizam noutras regiões, designadamente os olivais de alta densidade (494) a 865 árvores/ha) e os super-intensivos (1482 a 2223 árvores/ha), necessitam de parcelas
de terreno com área e fertilidade adequadas. Necessitam também de água para rega e
que as explorações estejam electrificadas. Em Trás-os-Montes não há, actualmente, água
armazenada para regar áreas relevantes de olival e a electrificação é um problema adicional
devido à dispersão das parcelas. O declive dos terrenos é ainda um constrangimento
suplementar.
Tudo indica que a estrutura fundiária da região, com a propriedade pulverizada
em pequenas parcelas, associada a dificuldades na electrificação dessas parcelas, disponibilidade
limitada de água para rega, inclinação dos terrenos e idade avançada dos olivicultores
vá atrasar a reestruturação do olival. É nossa convicção que nos próximos 10 anos
o cenário da olivicultura em Trás-os-Montes não apresentará modificações de monta,
excepcionando-se provavelmente o incremento da colheita mecanizada e um provável,
mas ligeiro, aumento da área de regadio. Esperemos que a maior modificação não consista
no abandono da actividade por parte de muitos produtores. É necessário lutar pela
viabilidade do olival actual, mantendo presente a necessidade de o modernizar com a
urgência possível. É necessário criar pressão política para que surjam infra-estruturas de
regadio e para que os programas de apoio ao sector se mantenham ou sejam reforçados.
Olivicultores, técnicos, associações de produtores, autarquias e decisores políticos devem
unir esforços em torno daquela que é a principal actividade económica de muitas freguesias
da região.