Frequência de acidentes de trabalho nos serviços de urgência dos Hospitais Portugueses entre 2000 e 2010
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O ambiente de trabalho hospitalar é caraterizado por agregar um conjunto de fatores de risco, que vão desde os físicos, aos químicos, aos biológicos e aos psicossociais, que expõem os seus trabalhadores a riscos acrescidos para a sua saúde, facilitando a ocorrência de acidentes de trabalho. Uva (2007); Martins, Silva e Correia (2012). Nos serviços de urgência/emergência, estes fatores são agravados. Os serviços de urgência/emergência são caracterizados por atenderem vítimas de doença súbita ou trauma em situação muitas vezes de risco de vida, que exige uma atuação rápida e recurso a tecnologia de ponta, favorecendo ou intensificando os riscos de acidentes de trabalho nestes profissionais. Os estudos nacionais e internacionais evidenciam o serviço de urgência como o segundo local com maior notificação de acidentes de trabalho. Ruiz, Barbosa e Zaida (2004); ACSS (2009); Martins, Silva e Correia (2012) Consideramos assim imperioso conhecer as condições em que ocorrem os acidentes de trabalho nestes serviços, as circunstâncias que os determinam e os influenciam, para deste modo produzir evidências que permitam, com segurança, intervir nas diferentes variáveis promovendo a saúde e prevenindo a doença nestes locais.
Este estudo teve como objetivo analisar a notificação de acidentes de trabalho nos serviços de urgência de cinco unidades hospitalares portuguesas entre 2000 e 2010.
Estudo epidemiológico transversal retrospetivo, referente ao período de 1 de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2010. Realizado nos serviços de urgência de cinco hospitais portugueses, prestando assistência continua a utentes com diferente e diversos graus de complexidade. Todos os trabalhadores neste serviço fazem uma cobertura assistencial de 24 horas por dia de forma rotativa.
Definiram-se como critérios de inclusão, trabalhar no serviço de urgência e ter acidente de trabalho notificado. A amostra foi constituída por 495 trabalhadores. A informação foi obtida recorrendo aos registos anónimos do inquérito de notificação dos acidentes de trabalho da Direção de Recursos Humanos da Saúde. A recolha de dados foi realizada, após autorização dos Conselhos de Administração das respetivas instituições, no período de janeiro a setembro de 2011, nos dias úteis entre as 9:00 e as 17:00 horas no serviço de recursos humanos/saúde ocupacional de cada instituição. Os dados foram codificados, inseridos e analisados em base de dados SPSS® (Statistical Package for Social Sciences) versão 18.0 para Windows. As medidas de frequência, neste estudo, foram calculadas tendo como população o total de acidentes notificados (459) nos cinco serviços de urgência.
Do total de 3870 acidentes notificados, nos cinco hospitais, 495 (12,7%) foram nos serviços de urgência. Verificou-se um aumento da notificação de acidentes ao longo dos anos de (3,8%) em 2000 para (11,9%) em 2010. Estes resultados vão de encontro aos dados publicados pela Administração Central dos Serviços de Saúde que apontam para um aumento da taxa de acidentes notificados nas instituições de saúde entre 1997 e 2007 de aproximadamente 12%. Nestes serviços, a maior notificação de acidentes foi na categoria profissional dos enfermeiros (50,9%) seguida da categoria dos auxiliares de ação médica (34,3%), no género feminino (76,6%), no grupo etário de 20-29 anos (34,4%) e com mais de 10 anos de serviço (38,8%). Dados corroborados por outros estudos nesta área de especialidade. Nishide, Benatti e Alexandre (2004); Barbosa, Figueiredo e Paes (2009); Martins, Silva e Correia (2012). Os enfermeiros são os profissionais mais representativos na equipe, que prestam a maior parte dos cuidados diretos, de forma ininterrupta, recorrendo a tecnologia sofisticada, em situações de emergência, e stress. A existência de maior notificação de acidentes no grupo etário mais jovem pode dever-se ao facto de nos serviços de urgência as equipes serem maioritariamente jovens, precisamente pela dinâmica de trabalho que estes serviços incutem. Em trabalhadores com nível habilitacional de licenciatura (60,9%), com relação jurídica de emprego de nomeação (60%) e a praticar horário por turnos (87,7%). A maior frequência de acidentes notificados verificou-se nas três primeiras de trabalho (39,2%) e nos dois primeiros dias de trabalho após descanso semanal (55,5%). Em média os acidentes ocorreram às 13 horas (dp= +/- 5,7 horas), com prevalência às segundas-feiras (17,8%) e com uma distribuição mais ou menos homogénea ao longo dos anos. Dados também corroborados por outros estudos, que referem uma maior frequência de acidentes no início do turno de trabalho, por ser neste período que recai uma grande intensidade de trabalho e pela inadaptabilidade do trabalhador no primeiro dia e nas primeiras horas. Ruiz, Barbosa e Zaida (2004); Barbosa, Figueiredo e Paes (2009); Martins, Silva e Correia (2012). As principais causas foram a picada de agulha (48,9%), seguida dos cortes/pancadas (14,4%) e dos esforços excessivos/movimentos inadequados (13,5%), provocados por ferramentas/instrumentos (58%) e pela mobilização de doentes (11,7%). Vários estudos identificam como a principal causa de acidente em meio hospitalar a picada de agulha, facto que se prende com o tipo e frequência de procedimentos realizados neste contexto, como punçoes venosas, pesquisas de glicémia, colheita de sangue, preparação e administração de terapêutica, realização de pensos, realização de cirurgias, entre outros. Nishide, Benatti e Alexandre (2004); Izidoro, Iwamoto e Camargo (2010); Silva, Machado, Santos e Marziale (2011); Martins, Silva e Correia (2012). A parte do corpo mais atingida foi as mãos (58,8%) seguida do tronco (11,3%) e o tipo de lesão mais frequente foram as feridas (56,6%), os entorses/distensões (13,5%) e as contusões/esmagamentos (12,1%). Resultaram em incapacidade (22,4%) e o número de dias perdidos variou entre o mínimo de 1 dia e o máximo de 259 dias num total de 3 970, recaindo a média por acidente em 8 dias. O número de dias perdido correlacionou-se, através da correlação de pearson, positiva e significativamente com o grupo profissional, considerando o grupo profissional mais qualificado nos primeiros níveis, com o tempo de serviço, com o grupo etário, com o agente da lesão e tipo de lesão. E negativamente com o nível habilitacional, o numero de dias face ao descanso semanal. O que quer dizer, que os acidentes mais graves ocorrem preferencialmente nas categorias profissionais menos qualificadas e especializadas, com mais tempo de serviço e com idade mais avançada. Estes grupos profissionais além da exposição aos riscos caraterísticos do ambiente hospitalar, acrescem outros, como, sobrecarga de trabalho, salários insuficientes, formação inadequada, insatisfação e insegurança ocupacional. Os nossos dados corroboram os resultados dos estudos de Ruiz e Izidoro que referem que são frequentes e mais graves os acidentes que envolvem trabalhadores que auferem menores salários, como auxiliares de ação médica, trabalhadores de lavandaria, cozinha ou de serviços de apoio. Ruiz, Barbosa e Zaida (2004) e Izidoro, Iwamoto e Camargo (2010)
Este estudo possibilitou identificar os acidentes de trabalho registados nos serviços de urgência de cinco unidades hospitalares portuguesas, verificando-se um aumento da notificação ao longo dos anos. O grupo profissional onde se verificou maior notificação foi o dos enfermeiros e no grupo etário mais jovem. A principal causa de notificação foi a picada de agulha e a parte do corpo atingida as mãos. No entanto os acidentes mais graves relacionaram-se com as auxiliares de ação médica e com o grupo etário com idades mais avançadas. Parecem-nos necessárias mudanças no ambiente de trabalho e a implementação de programas de prevenção, dirigidos a estes grupos específicos, para minimizar os acidentes e as suas consequências em ambiente de urgência/emergência.