Constitui objecto deste estudo a adaptação de indivíduos idosos a novas modalidades de trabalho na agricultura face às crescentes limitações que se lhes vão
deparando. Com uma abordagem situada no plano da actividade, aí ressaltam a(s)
adaptação(ões) do modo de execução do trabalho agrícola.
O estudo empírico realizou-se em Trás-os-Montes e o universo operacional
escolhido incluiu idosos criadores de vacas Mirandesas e idosos que florestaram
terras agrícolas. A recolha de informação compreendeu a utilização de estatísticas de
organizações – Associação de Criadores de Bovinos de Raça Mirandesa, Associação
de Produtores Florestais Arborea, Empresa de Florestação Floresta Verde – e a
inquirição directa de agricultores idosos cujas actividades se integram nas duas
orientações produtivas referidas.
Dois eixos de análise – trabalho e relações intergeracionais – são essenciais
para a prossecução do objectivo geral da investigação. Este é o de identificar
modalidades de trabalho adaptadas à situação familiar, dependentes quer dos
interesses patrimoniais, quer das produções obtidas, quer ainda dos rendimentos
gerados.
As estratégias produtivas e de reprodução do património, em regra, articulam
interesses familiares exteriores aos da esfera estrita do agregado doméstico, sendo as
relações intergeracionais particularmente importantes para a sua compreensão.
Remetem ainda para a discussão acerca do papel dos idosos agricultores no conjunto
da sociedade e em particular para a reflexão sobre o modo como esses “activos” se
relacionam com os sistemas de protecção social.
O estudo detalhado do trabalho de idosos em meio rural destaca um conjunto
de factos que desmistifica algumas ideias feitas acerca dos agricultores idosos. Não
há evidência que sejam avessos à utilização de novas técnicas nem à introdução de
novas culturas. Mostrou-se que ao caminhar para modalidades de agricultura
adaptadas às suas crescentes limitações, adoptam com frequência, dominam e
aprendem a usar novas técnicas e novos equipamentos, adquirindo novos
conhecimentos.
O conjunto de idosos activos observado valoriza património, responde às
indicações das políticas agrícolas, trabalha adaptando-se quer às suas limitações
físicas, quer às hipóteses de contribuições de mão-de-obra. Combinam assim rendimentos patrimoniais, de actividade, e de reformas. The object of this study is the adaptation of aged farmers to new working modes
in agriculture in response to the increasing constraints they face with age. Based on an
activity approach meant to highlight the adaptations in the performance of in-farm
tasks.
The empirical study was carried out in Trás-os-Montes and focused on aged
farmers raising “Mirandesa”, an autochthonous cattle breed, and those implementing
afforestation projects in former cropland. Data collection phase comprised search on
the records of organizations studied – “‘Mirandesa’ Cattle Breed Growers Association”,
“‘Arborea’, Forest Producers Association”, “Floresta Verde’ Afforestation Company” –
as well as interviews to aged farmers involved with the production areas previously
mentioned.
Two axes of analysis – labour and intergenerational relationships – are
essential to pursue the general objective of this research, which is to identify labour
modes adapted to family condition, driven by property interests, or productions
obtained, or even income.
Strategies of production and property reproduction often articulate family
interests borne outside the household, making the analysis of intergenerational
relationships very helpful to understand these mechanisms. Those relationships also
bring on the discussion on the role played by aged farmers in society as a whole and in
particular a reflexion on the ways this aged active population relates with social
welfare.
The detailed study of aged labour in rural areas uncovers a set of facts that help
redefine the traditional common vision on aged farmers. There is no evidence they
have refused the use of new techniques, nor the introduction of new crops. The study
shows that aged farmers when adjusting activities to their age constraints, willingly
adopt, master and learn new techniques and how to use new equipment.
The set of aged farmers under study actively contributes to valuing property,
responds to agricultural policies, adapts progressively either the workload to their
physical constraints or to the farmhands supply. Hence, they are able to combine
incomes from property, activity and pensions.