Partículas em suspensão na Praça Camões (Bragança), durante a construção do parque de estacionamento
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As concentrações de partículas em suspensão na atmosfera foram avaliadas na Praça
Camões, em Bragança, durante a execução da obra do Parque de Estacionamento Subterrâneo,
inserida no Programa BragançaPolis, com o objectivo de avaliar a incidência das actividades
desta construção sobre a qualidade do ar local. Neste sentido, as concentrações mássicas das
fracções de tamanho PTS, PM10 e PM2.5 foram determinadas, em simultâneo, em diferentes
fases da obra. A gravimetria foi o método usado para a quantificação das três fracções de
tamanho, tendo-se recorrido a amostradores MiniVOL Airmetrics para recolher as amostras. A
execução da obra foi acompanhada com um conjunto de medidas de controlo das emissões de
poeiras, como o humedecimento regular da superfície.
O estudo realizado demonstra que a obra motivou um aumento dos níveis locais das três
fracções de partículas em suspensão, susceptível de causar algum incómodo e problemas de
saúde às populações locais. Os níveis mais elevados de PTS foram observados aquando da
realização das operações de escavação e de ancoragem, porém as poeiras libertadas por estas
actividades em maior proporção foram as de tamanho superior a 10 μm. As emissões associadas
às operações de corte de betão e de pedra, bem como as operações de varredura das lajes e de
outras superfícies, ao contrário das anteriores, são constituídas por uma fracção mais fina de
poeiras, reflectindo-se num incremento significativo das concentrações de PM10 e, inclusive, de
PM2.5. Não obstante as concentrações de PTS, PM10 e PM2.5 serem um reflexo da natureza e do
regime de intensidade das actividades desenvolvidas, factores como as condições atmosféricas e
a eficácia dos procedimentos de redução das emissões também influenciaram a magnitude das
concentrações.
Mais ainda se conclui que é necessário integrar práticas ambientais correctas na
actividade de construção civil, ao longo de todas as suas etapas, de modo a salvaguardar-se a
qualidade do ambiente e a saúde das populações.
Os projectos de construção geram frequentemente cenários fortemente perturbadores para as comunidades envolventes às áreas de implementação dos mesmos. Uma das maiores perturbações associadas à construção resulta das emissões de poluentes particulados para a atmosfera, as quais podem causar prejuízos consideráveis na qualidade do ar, com repercussões graves para a saúde do Homem.
Neste contexto, no âmbito do Projecto de Acompanhamento Ambiental da Obra do Parque de Estacionamento Subterrâneo da Praça Camões, em Bragança, que está previsto terminar no próximo mês de Junho, considerou-se relevante a avaliação dos níveis de partículas em suspensão, na forma de PTS, PM10 e PM2.5, com o propósito de caracterizar a obra enquanto fonte de partículas e, concomitantemente, avaliar o seu impacte sobre os utentes da zona directamente afectada.
Para a consecução deste objectivo adoptou-se um plano de monitorização que envolve a determinação das concentrações de PTS, PM10 e PM2.5 na atmosfera, ao longo de dez campanhas experimentais, distribuídas pelas várias fases de execução da obra. Em cada campanha experimental realizam-se três períodos de amostragem diários (com duração de 24 horas). Estes três períodos são realizados de forma sequencial, com ou sem intervalo entre eles, e envolvem a recolha em paralelo de amostras dos três parâmetros indicados anteriormente.
A metodologia adoptada para quantificar as partículas em suspensão na atmosfera envolve uma fase inicial de recolha de amostras, recorrendo ao processo físico de filtração, e uma segunda fase de quantificação da massa de cada uma das amostras, por gravimetria. O sistema de amostragem consiste basicamente em três amostradores de baixo caudal (Mini-Vol da Airmetrics), equipados com cabeças de amostragem específicas para a recolha de PM2.5, PM10 e PTS. Estes sistemas de amostragem incorporam ainda na sua estrutura elementos que promovem controladamente a circulação de ar ambiente através de um filtro, sobre o qual se vai acumulando o material particulado. As amostras de PTS foram, em alguns casos, recolhidas por um sistema diferente, desenvolvido pela SondarLab. A massa de partículas depositada é determinada directamente por pesagem do filtro antes e após a amostragem, usando-se para o efeito uma balança de elevada precisão.
A análise dos principais resultados permite constatar que, de certa forma, os níveis atmosféricos de PM2.5, PM10 e PTS são um reflexo da natureza e do regime de intensidade das actividades desenvolvidas ao longo das várias fases do projecto. Durante o período de escavação e de execução das fundações, a obra revelou ser uma fonte significativa de matéria particulada para a atmosfera. Todavia em resultado da implementação de algumas medidas de controlo, como o humedecimento regular da superfície, foi possível minorar os impactes associados. Durante este período, em que prevaleceram os trabalhos de movimentos de terra (escavação, perfuração, ancoragem, carregamento dos camiões, circulação de veículos pesados, entre outros), a obra teve particular incidência sobre os níveis atmosféricos de PTS e, em menor extensão, sobre os níveis de PM10. As concentrações diárias de PTS variaram entre 30 μg m-3 e 400 μg m-3, enquanto as concentrações diárias de PM10 foram substancialmente inferiores, obtendo-se rácios PM10/PTS quase sempre inferiores a 25%. No que concerne às PM2.5, não foi possível determinar com precisão as concentrações desta fracção, uma vez que os valores obtidos foram na generalidade inferiores ao limite de quantificação do método, o qual era de 27,8 μg m-3, nas primeiras cinco campanhas realizadas.
Com o fim da escavação e da construção da parede de contenção periférica e da sua ancoragem, esperava-se que a obra passasse a constituir uma fonte de partículas de menor intensidade. Não obstante, continuaram-se a desenvolver múltiplas actividades geradoras de matéria particulada, nomeadamente as operações de corte de betão e de pedra, bem como as operações de varredura das lajes ou de outras superfícies, quando efectuadas sem quaisquer cuidados ambientais.
As concentrações de PTS, PM10 e PM2.5 obtidas no período pós-escavação sugerem que as actividades desenvolvidas durante esta fase podem ter um impacte bastante significativo sobre o descritor qualidade do ar, em particular pelo facto de poderem estar na origem de emissões elevadas de partículas de diâmetro equivalente inferior a 10 μm. As concentrações de PM10 chegaram a atingir valores superiores a 100 μg m-3 e as de PM2.5 ultrapassaram em alguns casos os 50 μg m-3, criando cenários não conformes com o estipulado nos documentos legais. Nesta fase, os rácios PM10/PTS e PM2.5/PTS subiram para cerca dos 50% e dos 30% respectivamente.
Este facto reforça a necessidade de se integrar práticas ambientais correctas na actividade de construção civil, ao longo de todas as suas etapas, de modo a salvaguardarmos a qualidade do ambiente e a saúde das populações.