Da norma da língua sob a perspectiva da linguística
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O tema que é anunciado no título – “Da norma da língua sob a perspectiva da
linguística” – suscita dois problemas. O primeiro está enunciado no próprio título: sendo a
linguística uma ciência, está fora do seu escopo uma perspectiva normativa sobre as
línguas. Por isso, o tema anunciado é uma falsa questão. Para a linguística não existe um
“bom português” e um “mau português”. Quando utilizamos as designações de “bom
português” e de “mau português”, referimo-nos às classificações que, numa determinada
época, não só a gramática tradicional, mas também os próprios falantes fazem dos usos da
sua língua em “correcto”/ “incorrecto”, não de acordo com os parâmetros que regem
internamente a arquitectura da língua, mas de acordo com a ideia de estado puro ou impuro
da mesma. Estamos a fazer referência, por exemplo, à tentativa de correcção de falantes
que não fazem a distinção entre /b/ e /v/, e por isso dizem vala e bala como [bal ], por
parte de falantes que fazem a distinção entre /b/ e /v/ e por isso dizem [val ] e [bal ]. Mas
estamos a incluir também nesta temática a oscilação entre, por exemplo, hão-de e hadem,
entre tu leste e tu lestes, entre lê-lo-ei e lerei-o, etc. Por parte da linguística, ciência que
estuda as línguas e a linguagem, estas formas são encaradas com a mesma objectividade.
Não há formas boas e formas más. A linguística analisa as formas que existem em cada
língua; não apenas as que numa determinada época e numa determinada comunidade são
encaradas como correctas; assim como também não tem como objectivo fazer desaparecer
as que nessa mesma época e nessa mesma comunidade são tidas como incorrectas. Assim
sendo, como já dissemos, esta é uma falsa questão, o que significa que podemos dar a
sessão por encerrada.