Da norma da língua sob a perspectiva da linguística Conference Paper uri icon

abstract

  • O tema que é anunciado no título – “Da norma da língua sob a perspectiva da linguística” – suscita dois problemas. O primeiro está enunciado no próprio título: sendo a linguística uma ciência, está fora do seu escopo uma perspectiva normativa sobre as línguas. Por isso, o tema anunciado é uma falsa questão. Para a linguística não existe um “bom português” e um “mau português”. Quando utilizamos as designações de “bom português” e de “mau português”, referimo-nos às classificações que, numa determinada época, não só a gramática tradicional, mas também os próprios falantes fazem dos usos da sua língua em “correcto”/ “incorrecto”, não de acordo com os parâmetros que regem internamente a arquitectura da língua, mas de acordo com a ideia de estado puro ou impuro da mesma. Estamos a fazer referência, por exemplo, à tentativa de correcção de falantes que não fazem a distinção entre /b/ e /v/, e por isso dizem vala e bala como [bal ], por parte de falantes que fazem a distinção entre /b/ e /v/ e por isso dizem [val ] e [bal ]. Mas estamos a incluir também nesta temática a oscilação entre, por exemplo, hão-de e hadem, entre tu leste e tu lestes, entre lê-lo-ei e lerei-o, etc. Por parte da linguística, ciência que estuda as línguas e a linguagem, estas formas são encaradas com a mesma objectividade. Não há formas boas e formas más. A linguística analisa as formas que existem em cada língua; não apenas as que numa determinada época e numa determinada comunidade são encaradas como correctas; assim como também não tem como objectivo fazer desaparecer as que nessa mesma época e nessa mesma comunidade são tidas como incorrectas. Assim sendo, como já dissemos, esta é uma falsa questão, o que significa que podemos dar a sessão por encerrada.
  • Porto Editora

publication date

  • January 1, 2004