A doença oncológica, preenche os requisitos de uma doença crónica, pois mais do que uma alteração
do processo de crescimento e de divisão celular, com perda de controlo da sua proliferação, integra toda
uma configuração de desconforto e de desorganização psicossocial que influencia a perceção de saúde e
de qualidade de vida, de forma significativa e continuada (Santos, 2006).
O cancro é um dos tipos de doenças crónicas que mais tem aumentado a sua incidência a nível
mundial. De acordo com as últimas estatísticas mundiais disponíveis, é responsável por uma em cada três
mortes, por doenças não transmissíveis. Segundo as últimas projeções, o número de casos de cancro
aumentará para bem mais de 20 milhões até o ano 2030 (Bray, 2016).
O aumento de incidência de cancro deve-se, em grande medida, ao aumento da exposição aos fatores
de risco associados, mas maioritariamente ao incremento da esperança de vida da população, através do
seu envelhecimento. De acordo com os dados mais recentes disponíveis na Liga Portuguesa Contra o
Cancro, o cancro é a principal causa de morte em Portugal, representando cerca de 27% das mortes em
homens e 23% das mortes em mulheres. Nos idosos, as taxas de incidência de cancro são ainda mais
elevadas.
Alguns dados estatísticos sobre o cancro em idosos em Portugal mostram que a partir dos 65 anos, a
incidência de cancro aumenta de forma significativa, sendo que a maioria dos casos ocorre em pessoas
com 70 anos ou mais.
Em Portugal, a sobrevivência global após o diagnóstico de cancro tem melhorado nos últimos anos,
embora ainda haja uma grande variação nos resultados, dependendo do tipo de cancro e do estádio da
doença no momento do diagnóstico. O diagnóstico e tratamento precoces são fundamentais para
melhorar a sobrevivência e qualidade de vida das pessoas idosas com cancro.
Estes dados destacam a importância da prevenção, diagnóstico precoce e tratamento eficaz do cancro
em idosos em Portugal, para ajudar a melhorar os resultados de saúde e qualidade de vida desta
população vulnerável. A intervenção clínica em oncologia tem-se evidenciado, melhorando a sobrevida dos doentes, ou seja,
conseguindo que sobrevivam à doença, não apenas com a quimioterapia, mas também transplante e
outras técnicas. O que na realidade não tem melhorado significativamente é a qualidade de vida durante
o tratamento e as respetivas sequelas, recorrendo muitas vezes a práticas integrativas e complementares
em saúde.
Gerir a saúde mental e emocional é tão importante quanto gerir a saúde física durante os tratamentos. É
essencial que as pessoas com cancro tenham acesso a profissionais de saúde mental treinados e serviços
de apoio para ajudá-las a lidar com as preocupações psicológicas associadas ao cancro.
Gerir uma doença oncológica pode ser um desafio físico, emocional e financeiro. É importante que as
pessoas com cancro recebam apoio adequado e cuidados de saúde integrados para ajudá-las a gerirem
os sintomas e lidarem com as mudanças na sua vida diária. Isto pode incluir terapias de suporte emocional, terapias complementares, dieta equilibrada, atividade física moderada e tratamento médico e psicológico
adequados.
Como ferramenta de eleição na prevenção da doença oncológica e na promoção da saúde em geral
destacamos a literacia em saúde. A literacia em oncologia refere-se à capacidade de uma pessoa entender
informações relacionadas ao cancro, prevenção, diagnóstico e tratamento, bem como utilizar essas
informações para tomar decisões informadas sobre a sua saúde. Isto inclui entender conceitos médicos
relacionados ao cancro, como diagnóstico, estadiamento, tratamento e efeitos colaterais.
A literacia em oncologia também pode incluir a compreensão de fatores de risco, prevenção e deteção
precoce do cancro. É importante que as pessoas com cancro e os seus cuidadores tenham um bom nível
de literacia em oncologia para que possam comunicar efetivamente com os profissionais de saúde,
entender o tratamento prescrito e tomar decisões informadas sobre sua saúde.
Os profissionais de saúde que trabalham com doentes com cancro devem possuir competências
técnicas (conhecimentos; comunicação terapêutica; empatia; suporte emocional; compaixão) e
interpessoais (trabalho em equipa) para fornecer um cuidado de alta qualidade e apoiar os doentes e suas
famílias em todas as fases do processo do tratamento.
Podemos afirmar que a doença oncológica é um dos principais problemas de saúde pública, sendo
cada vez mais encarado como uma doença crónica. Assumindo-se assim que o cancro é uma doença
crónica que afeta todas as dimensões da vida, quer seja física, funcional, cognitiva/psicológica, social,
económica e/ou espiritual (44). Estas repercussões impõem a necessidade de se gerir a cronicidade da
doença, bem como as sequelas/riscos decorrentes dos tratamentos impostos.
Este e-book reúne alguns dos trabalhos apresentados no I Congresso Internacional Cuidar em Oncologia realizado no IPB.