“Temos de nos tornar na mudança que queremos ver”
Mahatma Gandhi
Este pensamento de Gandhi reserva ao Homem uma responsabilidade ao mesmo tempo simples e imensa. Simples, porque exorta a fazer o que está ao alcance da nossa esfera pessoal. Sem desculpas. Imensa, porque nos responsabiliza, dado que, em grande medida, fazer o bem ou o mal depende do nosso cometimento.
A construção de uma sociedade mais humana, mais segura, mais agradável, mais sustentável passa, necessariamente, pela consciencialização dos fenómenos societários que trespassam e determinam as condições de vida atual, as condições da pós-modernidade. O fio condutor das ideias, ideias tão só, emana do diálogo entre interação e estrutura, isto é, do reconhecimento de que a subjetivação do indivíduo e a matriz dos contextos sociais, ambas contam.
A presente obra é uma compilação de um conjunto de textos apresentados pelo autor em conferências que têm como denominador comum a questão do envelhecimento, dos idosos e dos cuidadores formais e informais. Algumas dessas conferências foram sustentadas em estudos empíricos, outras resultam tão só da reflexão sobre os temas e as problemáticas sociais envolventes. Para além deste contributo pessoal, foram convidados a participar com os seus valiosos conhecimentos vários autores nacionais e estrangeiros, facto que enriqueceu bastante esta obra que se pretende abrangente e interdisciplinar.
Esta obra é também produto do trabalho desenvolvido pelos docentes e investigadores da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança desde que foi criado o curso de gerontologia em 2004. Mais recentemente, em 2008, com a criação do Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso, o qual coordeno, o esforço de investigação foi intensificado, sendo que muitos dos contributos desta obra resultam exatamente desse esforço de investigação e de intervenção no campo do envelhecimento e do cuidado ao idoso.
O primeiro andamento desta obra é dedicado ao enquadramento da temática na qual estão plasmados alguns dos fenómenos estruturantes das sociedades pós-modernas, os quais são incontornáveis e influenciam as relações pessoais e profissionais. O segundo andamento dá conta da importância crescente da gerontologia como ciência e como atividade profissional e aborda as questões da identidade e da cultura profissional do gerontólogo. Merece destaque ao capítulo “O Olhar do Gerontólogo, uma reflexão pessoal de um gerontólogo sobre a sua experiência profissional, escrita na primeira pessoa, sem recurso a referências bibliográficas, a qual pensamos poderá ser da maior utilidade para os colegas mais novos que iniciam a sua atividade profissional. A obra continua com o terceiro andamento dedicado aos valores do cuidado da pessoa idosa, na qual se abordam a ética e a humanitude no cuidado gerontológico, assim como a problemática dos estereótipos e da sexualidade do idoso. O quarto andamento, que reputamos de importância mister é dedicado aos diferentes sistemas de apoio aos idosos, designadamente o papel da família e da institucionalização. No quinto andamento é abordada a questão fundamental do idoso enquanto ator social e enquanto recurso. Por fim, no sexto andamento apresentamos alguns temas complementares ao trabalho com idosos, designadamente: duas ferramentas práticas - o coaching e o exercício físico; e dois temas desenvolvidos em profundidade e atuais – a educação emocional e a sabedoria do idoso.
Foi intenção do autor, assim como do editor, que a obra tivesse um carater pedagógico. Dedicamo-nos a esta tarefa com satisfação e naturalidade dado que, em cerca de duas décadas dedicadas ao ensino e investigação, tivemos sempre como referencial primeiro falar e escrever para os nossos alunos. O timbre da redação situa-se ao nível de uma linguagem própria da escrita científica, contudo, com a preocupação de ser entendível por um público mais vasto. Alguns elementos lexicais e conceptuais mais apurados são, tanto quanto o possível, explicados sucintamente e exemplificados. Elemento essencial do caracter pedagógico da obra reside na preocupação de encerrar cada capítulo com uma proposta, denominada Ferramenta para a Prática, que possa de algum modo ajudar o leitor a atuar no terreno, que suscite a reflexão, o aprofundamento da temática, ou a simples implicação através da invocação da sua experiência pessoal.
Em toda a obra os idosos são referenciados pelas formas neutrais e consagradas na língua e cultura portuguesa de idoso ou de pessoa idosa. Evitamos as designações como: velhos, maiores, seniores, gerontes, entre outras, porque, de forma consciente ou inconsciente, frequentemente, as mesmas podem dar origem a estereótipos inadequados e eticamente inaceitáveis.
Não é necessário ler o livro todo. O leitor pode, se assim o desejar, ler apenas as partes que são do seu interesse mais imediato. Porém, é nossa espectativa, que a leitura de um capítulo suscite a curiosidade de ler mais. Aliás, foram incluídas notas e referências que convidam o leitor a fazer isso mesmo.