Tem sido incómodo o persistente questionamento dos pressupostos tradicionais
de produção do conhecimento científico que é feito pelos Estudos sobre
as Mulheres, de Género e Feministas (EMGF) às ciências sociais e humanas. Esta
visão crítica estende-se, porém, também às ciências ditas exatas, que há muito
começaram a abandonar a defesa do monismo metodológico, deixando de acreditar
que há apenas uma via de trabalho credível – a nomotética – para separar o
domínio especulativo do científico.
Os argumentos de contestação usados pelos/as investigadores/as dos EMGF
prendem-se não apenas com a conceção de sujeito (abstrato) que é objeto de estudo,
mas também com a suposta neutralidade dos contextos ou, diríamos, com o quase
«branqueamento» das condições de vida das pessoas, o que tornaria, nessa perspetiva,
plausível aceitar a universalidade das generalizações ou validar a exaustividade
inerente à noção de representatividade das amostras. Trata-se assim, de
repensar criticamente as dimensões ontológicas e epistemológicas que alicerçam o
trabalho de investigação, bem como as vertentes metodológicas e éticas do saber
que vai sendo construído nas diversas áreas científicas.