A força muscular como parâmetro de avaliação nutricional em hemodiálise
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A desnutrição proteico-calórica (DPC) é muito comum
nos doentes insuficientes renais em hemodiálise (HD). Parece
existir uma associação da DPC com a morbilidade cardíaca e a
inflamação. A DPC aumenta a mortalidade e morbilidade destes
doentes e a avaliação nutricional é crucial para a sua detecção.
Os depósitos proteicos viscerais podem ser avaliados por
parâmetros bioquímicos (albumina, creatinina, colesterol) mas
as proteínas somáticas necessitam de técnicas de avaliação da
composição corporal, como a Bioimpedância. O teste de força
de pressão da mão (“handgrip strength” – HGS) é um bom índice
prognóstico e de perda de massa muscular, reflectindo o grau
de dependência dos doentes. O HGS é utilizado para avaliar o
desempenho geral dos músculos, pela determinação da força
de pressão produzida por uma pressão máxima. O nosso estudo
teve como objectivo comparar os resultados do HGS com a
composição corporal avaliada por BIA e com o estado nutricional
dos doentes.
Material e métodos: Foi efectuado um estudo de corte transversal
para avaliar o HSG e o estado nutricional de doentes em
HD regular. Foram avaliados 126 doentes em hemodiálise de altofluxo,
dos quais foram incluídos apenas 93 doentes. Factores
de exclusão: inflamação aguda ou crónica, amputações e doença
vascular grave. Recolhemos dados como a idade, sexo, história
clínica, co-morbilidade, estatura, peso pós-diálise e de referência
(SBW), % SBW, cinética da ureia e ainda os resultados
da BIA e HGS.
Resultados: Foram classificados como desnutridos 23 doentes
(25%). Na comparação desnutrição/bom estado nutricional por
BIA, verificamos que não existiam diferenças significativas na
massa gorda. Os indivíduos desnutridos apresentavam valores
inferiores de reactância, ângulo de fase, massa magra e muscular.
Estes doentes desnutridos apresentavam, por outro lado,
valores superiores de resistência e de relação Na/K. No HGS
verificou-se que os desnutridos revelavam força muscular inferior,
em relação aos doentes com bom estado nutricional
(21,5±8,4/29,5±10,1; P<0,01). Os resultados do HSG correlacionaram-
se positivamente com a massa muscular (r=0,58;P<0,01),
reactância (r=0,25;P<0,05), ângulo de fase(r=0,46;P<0,01), massa
celular (r=0,27;P<0,01) e índice de massa celular (BCMI
r=0,46;P<0,01) mas correlacionaram-se negativamente com a
resistência (r= -0,44;P<0,01) e a idade (r= -0,36;P<0,01). Relativamente
aos parâmetros bioquímicos, verificamos que os resultados
do HGS se correlacionaram positivamente com a albumina
(r=0,33;P<0,01) e creatinina (r=0,30;P<0,01) e de forma
negativa com a proteína C reactiva (r= -0,22;P<0,05) e IL-6 (r=
-0,26;P<0,05).
Conclusão: O HGS, teste simples, barato e não invasivo, pode
identificar doentes em hemodiálise regular com risco elevado de
desnutrição. A sua integração na avaliação nutricional dos nossos
doentes permitiu essa identificação, de forma concordante
com os métodos analíticos clássicos e com a BIA.