A estabilidade macroclimática é uma ilusão transmitida pela nossa curta
esperança de vida. À escala geológica, desde tempos geológicos muito remotos
(cf. Briggs 1995), nos terrenos que hoje constituem o território português, o clima
oscilou entre os frios glaciares e os calores tropicais, passando pelos macroclimas
de tipo temperado e mediterrânico (Suc 1984). No início da época Miocénica
(23,8-5,3 Ma BP*) grande parte da Península Ibérica estava submetida a um
macrobioclima de tipo tropical, com chuvas bem distribuídas ao longo do ano
e, à excepção das montanhas, com uma estação fria amena e sem geadas.
Cobriam a Península Ibérica amplas florestas tropicais e subtropicais, entre as
quais sobressaíam pela sua abundância as florestas laurifólias (laurissilva), i.e.
florestas dominadas por espécies de folhas grandes, largas, por norma inteiras
(não recortadas), persistentes, sem pêlos, rijas, lisas e brilhantes. A partir do
Miocénico Médio a flora e a vegetação ibéricas foram profundamente marcadas
por uma sucessão de convulsões geológicas e macroclimáticas, em particular
pelas alterações climáticas que culminaram na transição do macrobioclima tropical
para o mediterrânico no Pliocénico e pelos numerosos ciclos glaciar-interglaciar
plistocénicos.