Pastores, pastoreio e risco de incêndio: aliados, cúmplices ou concorrentes?
Artigo de Conferência
Visão geral
Pesquisas
Informação adicional documento
Ver Todos
Visão geral
resumo
As estatísticas dos incêndios florestais revelam que ao longo dos últimos 36 anos, Portugal foi o único entre os países do sul da Europa que não conseguiu reduzir significativamente a média anual da área ardida. Os trágicos incêndios de 2017, mais uma vez, revelaram a extrema vulnerabilidade de Portugal a condições meteorológicas extremas e a premência em encontrar meios eficazes de gestão dos combustíveis. Apesar da Estratégia Nacional para as Florestas (ENF), prever a gestão de combustíveis através do pastoreio, a sua promoção não tem sido efetiva, sendo muitas vezes, mesmo em meios técnicos, vista com desconfiança. A promoção do pastoreio dirigido (consumo de combustíveis) é complexa, a possibilidade de transformar combustíveis em recursos alimentares reclama a integração de conhecimentos multidisciplinares. O tipo de recurso/combustível condiciona o tipo de animal – herbívoro-pastador ou lignívoro – a utilizar; o consumo de combustíveis não palatáveis pressupõe o seu enquadramento como serviço e não como forma produtiva. À parte das questões biológicas, as de natureza social, também colocam desafios significativos, a promoção do pastoreio dirigido dificilmente poderá ocorrer sem a valorização social da atividade silvopastoril e do combate ao estigma que recai ainda hoje sobre os pastores. O objetivo deste trabalho é comparar a aceitabilidade (preferência positiva ou negativa) das espécies arbustivas mais representativas nas dietas de caprinos da raça Serrana no Nordeste de Portugal com a sua inflamabilidade. Os resultados mostraram que, por vezes, palatabilidade e inflamabilidade não variam no mesmo sentido; no caso das ericáceas (Erica sp.) e esteva (Cistus ladanifer), a inflamabilidade é muito elevada (nível máximo) no verão e o valor de preferência, variou entre espécie recusada a pouco preferida, sugerindo que o consumo de diversas espécies combustíveis não é interessante do ponto de vista produtivo consequentemente a sua remoção deve ser enquadrada como um serviço.
Os autores agradecem o suporte financeiro do projeto SOE2/P5/E0804: Modelo de gestão
sustentada para a preservação de espaços abertos de montanha.
Os trágicos incêndios de 2017, mais uma vez, revelaram a vulnerabilidade de Portugal a
condições meteorológicas extremas e a premência em encontrar meios eficazes de gestão
dos combustíveis. Apesar da Estratégia Nacional das Florestas (ENF) prever a gestão de
combustíveis através do pastoreio, a sua promoção não tem sido conseguida. A promoção
do pastoreio dirigido é complexa porque opera numa instância tradicionalmente
conflituosa. Conjuntamente, a possibilidade de transformar combustíveis em recursos
alimentares reclama a integração de conhecimentos multidisciplinares, que vão do
biológico ao socio-histórico. A promoção do pastoreio dirigido dificilmente poderá
ocorrer sem um conhecimento profundo das limitações biológicas do animal, das
características do sistema produtivo, da valorização social da atividade silvopastoril e do
combate ao estigma que recai ainda hoje sobre os pastores. O objetivo deste trabalho é
contribuir para a compreensão das limitações do uso do pastoreio na gestão dos
combustíveis, apoiando-se num estudo que compara a aceitabilidade das espécies
arbustivas mais representativas nas dietas de caprinos no Nordeste de Portugal com a sua
inflamabilidade. Os resultados mostraram que, por vezes, palatabilidade e
inflamabilidade não variam no mesmo sentido sugerindo que o consumo de diversas
espécies combustíveis não é interessante do ponto de vista produtivo consequentemente
a sua remoção deve ser enquadrada como um serviço de ecossistema.