A insuficiência renal crónica caracteriza-se por uma diminuição progressiva e irreversível da função renal, o que implica um comprometimento de todos os outros órgãos e sistemas. Os pacientes com insuficiência renal crónica em programa regular de hemodiálise têm capacidade funcional reduzida e comportamentos sedentários, o que se traduz num aumento da morbimortalidade. Ao longo dos últimos anos têm sido desenvolvidos e implementados, nesta população específica, programas de maximização da funcionalidade com efeitos benéficos comprovados. As alterações do perfil analítico, decorrentes destes programas de intervenção, ainda não estão suficientemente estudadas. O Enfermeiro especialista em Enfermagem de Reabilitação é detentor de um conjunto de competências que permitem responder às necessidades específicas desta população, implementando programas de treino cardiorrespiratório e de maximização da funcionalidade. Carece-se ainda de investigação que permita identificar indicadores sensíveis a estes cuidados específicos no sentido de quantificar os seus resultados. O objetivo principal deste estudo é analisar as alterações dos parâmetros analíticos da pessoa hemodialisada, decorrentes da implementação de programas de treino de maximização da funcionalidade. Para a concretização deste objetivo foi desenhada uma investigação causal comparativa, que decorreu na clínica NorDial; 24 indivíduos (grupo de intervenção) foram sujeitos a um programa de treino aeróbio (bicicleta estática e tapete rolante) antes das sessões de hemodiálise e 27 mantiveram a sua rotina habitual (grupo de controlo); todos os indivíduos foram sujeitos a avaliação antropométrica (peso, altura, índice de massa corporal) e da capacidade funcional (teste sit-to-stand, up and go e força de preensão manual) antes e depois da implementação do programa de treino e foi monitorizado o perfil analítico (Leucócitos, Neutrófilos, Hemoglobina e Hematócrito, Ureia, Creatinina, Albumina, Sódio, Potássio, Cálcio, Fósforo, Ferro, Capacidade de fixação de ferro, Ferritina, Glicose e Paratormona) mensalmente durante um ano. Foram ainda determinados o tempo de duração das sessões de hemodiálise, a dosagem de darbepoetina administrada e o índice de adequação à hemodiálise O programa de maximização da funcionalidade demonstrou ser determinante na melhoria da capacidade funcional destes pacientes, o que se traduz em ganhos claros na autonomia para a realização de atividades de vida diária. No grupo de intervenção observou-se diminuição da dose de administração de darbepoetina, mantendo-se os parâmetros relativos à anemia inalterados, o que constitui uma vantagem para os pacientes e diminui os custos do tratamento. Relativamente aos outros parâmetros analíticos em estudo, não foi possível estabelecer relação efetiva entre a variabilidade encontrada e a implementação do programa de maximização da função. No entanto, essa variabilidade verificou-se em ambos os grupos o que parece indiciar que a implementação do programa não tem efeito prejudicial sobre estes parâmetros e, particularmente, sobre a eficácia do tratamento dialítico. Os pacientes com esta especificidade exigem intervenções especializadas da área de competências da enfermagem de reabilitação, justificando a necessidade da integração destes profissionais nas equipas multidisciplinares nos serviços de hemodiálise. É premente a introdução de programas de maximização da funcionalidade na rotina diária de tratamento destes pacientes.