Desde há vários anos que a existência e persistência dos descontos/prémios dos fundos de investimento fechados tem suscitado perplexidade aos estudiosos dos mercados de capitais. Aqueles parecem desafiar a racionalidade e a eficiência dos mercados e, em consequência, as teorias sobre avaliação de activos baseadas em pressupostos de racionalidade. De facto, os descontos tem sido detectados com frequência, já desde a crise de 1929, salvo em alguns períodos nos quais se observou a existência de prémios. Vários têm sido os estudos que procuram justificar este puzzle, tendo sido propostas algumas teorias e factores explicativos, umas baseadas em factores ditos racionais, outras em factores comportamentais (“behavioralistas”), mas nenhuma das quais satisfatoriamente aceites pela generalidade da comunidade académica e mesmo profissional.
Considerando que os descontos/prémios dos fundos fechados poderão ser explicados quer por factores racionais (como a política de distribuição de resultados, custos de agência, liquidez e outros), quer por comportamentais (como o sentimento do investidor, limitações à arbitragem e informação assimétrica), desenvolvemos o presente trabalho de investigação tendo como enquadramento teórico estas hipóteses em conjunto (que designamos por corrente híbrida), o qual tem como objectivos principais: investigar os factores que poderão explicar a existência e persistência dos descontos/prémios, analisando as relações cross-sectional entre os descontos/prémios e esses factores, entre fundos; estudar o comportamento dos descontos/prémios ao longo do tempo e testar se a sua variabilidade poderá ser explicada pelos factores referidos, nomeadamente pelo sentimento do investidor, medido pelo índice construído por Baker e Wurgler (2006), o que nunca havia sido aplicado neste contexto, tanto quanto sabemos.
Este trabalho teve por base uma amostra de 346 fundos de investimento fechados Norte – Americanos, transaccionados na NYSE e/ou na AMEX, durante o período de Janeiro de 1987 a Junho de 1999 (inclusivé), obtida através da base de dados da Wiesenberger, A Thomson Financial Company. Através de análise univariada e multivariada, constatamos que factores como: a política de resultados (mais concretamente o dividend yield), o turnover, o sentimento do investidor e o custo de replicação (limites à arbitragem), são variáveis estatisticamente significativas, pelo que parece existir suporte empírico para a corrente híbrida. Quanto ao comportamento dinâmico dos descontos, ou seja, no sentido de compreendermos porque os descontos/prémios variam ao longo do tempo, apuramos que as premissas relativas à correlação entre os descontos e a autocorrelação de 1.ª ordem, estacionaridade e variabilidade em excesso da rendibilidade do preço do fundo, eram corroboradas, havendo indícios de que o sentimento do investidor poderá ser um dos factores explicativos. Os testes de co-integração ao preço dos fundos e respectivo valor patrimonial líquido, assim como entre a série dos descontos médios e as proxies do sentimento do investidor, parecem validar os resultados anteriores, isto é, levam-nos a inferir que o sentimento do investidor poderá ser um dos factores a ter em conta para a explicação do comportamento temporal dos descontos/prémios.
Acreditamos que este trabalho de investigação é mais uma contribuição em favor da corrente híbrida, tendo a particularidade de não se considerar apenas uma das proxies para o sentimento do investidor, mas um índice composto por algumas destas, como o proposto por Baker e Wurgler (2006), distinguindo-se, assim, de outros trabalhos. Acresce ainda que não existem muitos estudos, os quais advogando a corrente híbrida, analisem, simultaneamente, a existência e persistência dos descontos/prémios ente os fundos fechados e a sua variabilidade ao longo do tempo.
Este trabalho foi desenvolvido com o apoio e co-financiamento do Fundo Social Europeu através do PRODEP III - Formação de Docentes e Outros Agentes, Acção 5.3 - Formação Avançada de Docentes do Ensino Superior