As áreas de montanha em Portugal representam cerca de 40% do território nacional. Encerram
um conjunto de valores patrimoniais, materiais e imateriais, de profundo significado identitário,
em regiões particulares e no país como um todo. São áreas de geologia e geomorfologia complexa,
sistemas chave na regulação do clima regional e geral e na regulação da água, repositórios
de uma diversidade notável de habitats, fauna e flora e, cada vez mais, escolhas preferenciais da
população para contemplação e usufruição da natureza. Apesar da sua presença frequente na
paisagem e da sua importância em tantos aspetos da natureza, da economia e da sociedade, as
montanhas portuguesas não mereceram até ao momento uma publicação a elas inteira e especificamente
dedicada. Com esta obra pretende-se colmatar esta lacuna da literatura científica e
de divulgação em Portugal, reunindo um conjunto de contribuições de investigadores reconhecidos
em diferentes domínios das ciências agrárias, naturais e sociais. Baseia-se parcialmente no
ciclo de conferências que o Centro de Investigação de Montanha (CIMO) organizou na Escola
Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança nos anos de 2009 e 2010, dedicado ao
tema “Sustentabilidade da Montanha Portuguesa: Realidades e Desafios”, preservado no título
desta obra, e nos trabalhos aí apresentados por investigadores nacionais. Um primeiro grupo de
capítulos inclui uma introdução geral aos sistemas de montanha abordando aspetos do relevo,
clima, hidrologia, biodiversidade e socioeconomia. No Capítulo 1 abordam-se conceitos relativos
às montanhas e a sua aplicação no mundo e em Portugal (Azevedo et al.). No Capítulo 2 é
feita uma análise das relações entre o relevo e a distribuição espacial dos principais elementos de
clima (Gonçalves et al.). Aguiar e Vila-Viçosa fazem, no Capítulo 3, uma descrição da vegetação
natural e flora associada no interior norte e centro de Portugal continental e Nunes apresenta,
no Capítulo 4, um estudo sobre a vulnerabilidade do fornecimento de serviços de ecossistema
hidrológicos em dois sistemas montanhosos portugueses, num quadro de alterações climáticas.
Os Capítulos 5 e 6 são dedicados às pastagens e ao pastoreio, elementos centrais na ecologia e
economia das montanhas: o primeiro focado na análise de serviços de ecossistema de pastagens
semeadas biodiversas (Domingos et al.) e o segundo na descrição dos sistemas de produção
animal extensivos das regiões de montanha do Norte de Portugal e dos respetivos sistemas de
pastoreio (Castro). Antes das considerações finais apresentadas no Capítulo 9 (Pires et al.), abordam-
se especificamente os produtos de montanha: no Capítulo 7 a partir da análise de sistemas
de produção e origem de produtos animais (Bessa et al.) e no Capítulo 8 da valorização, do ponto
de vista nutricional e bioativo, de plantas, cogumelos e frutos secos (Barros et al.).